sábado, 31 de dezembro de 2011

A História durante a Ditadura Militar



Segundo as palavras de Leôncio Basbaum: “A mais importante característica do fascismo talvez seja o horror a cultura. Já o falecido Goebbels declarava que, quando ouvia falar nessa palavra, a sua primeira reação era puxar o revolver”.

O período compreendido entre os anos de 1946 até o primeiro trimestre de 1964, talvez possa ser considerado como o mais fecundo da educação brasileira, período este, onde atuaram grandes educadores.

Porém após a revolução militar de 1964, inúmeros professores passaram a ser perseguidos em decorrência de suas posições ideológicas contrárias aos interesses dos militares. Ainda segundo o autor acima citado, o professor Paulo Freire, que havia descoberto um método de alfabetização rápida, ideal para um país de analfabetos como o Brasil, foi obrigado a exilar-se.

Neste contexto, o Regime Militar de caráter anti-democrático, promoveu a demissão e a prisão de professores, invasão as universidades, prisão de estudantes, proibição da União Nacional dos Estudantes de funcionar, dentre outras arbitrariedades, em nome da suposta Lei de Segurança Nacional.

O período que vai de 1968 até 1971, pode ser considerado como sendo o mais cruel da ditadura militar em nosso país. O governo militar estruturou e aprovou reformas educacionais, sendo elas a Reforma Universitária, Lei 4.024/68, e a Lei 5.692/71 que reformava o ensino de 1º e 2º graus através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, tendo esta última como característica marcante a formação educacional com cunho profissionalizante.

De acordo com as palavras de Nelson Werneck Sodré:
“Na dialética do processo histórico esta inserida a contradição que impõe ao desenvolvimento capitalista, por um lado, a necessidade de fazer avançar e expandir os conhecimentos, enquanto, por outro lado, é compelido a manter o monopólio da cultura, em reservá-la a selecionadas minorias, recrutadas (no conjunto) por critérios de classe, limitadas pela adulteração ou pela deformação de conceitos sempre que possível”.

Segundo Louis Althusser, a escola pública é um dos aparelhos ideológicos do Estado, que a utiliza visando difundir a ideologia dominante da qual compartilha. E como não poderia deixar de acontecer, o ensino da disciplina de História, segundo o Decreto 68.065/71, deveria ser condicionado ao ensino do “culto à Pátria, dos seus símbolos, tradições, instituições e aos seus grandes vultos”.

Durante o período da Ditadura Militar no Brasil, as disciplinas de História e Geografia, foram transformadas em Estudos Sociais, causando o esvaziamento dos seus conteúdos, fazendo-os regredir para o método de memorização, ou seja, os alunos deveriam decorar nomes, datas e fatos que marcaram a nossa história visando o desenvolvimento do nacionalismo tão pregado pelos governos militares.

Além das mudanças descritas acima, foram criadas nas escolas de primeiro de segundo graus as disciplinas de Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política do Brasil, visando transmitir a nova ideologia baseada nos princípios da Segurança Nacional e na manutenção do regime instituído pelos militares.

Passou-se a divulgar a história de reis, heróis e batalhas, recordando-se do passado apenas os fatos heróicos e de engrandecimento da nação. Como exemplo, podemos mencionar a vitória do Brasil na Guerra do Paraguai, a comemoração do dia do índio, e da escravidão era lembrada apenas abolição dos escravos através da Lei Áurea, sem que fossem discutidas as perdas de vidas tanto do lado paraguaio quanto do brasileiro, o desaparecimento de inúmeras nações indígenas e a situação degradante na qual viveram por longos anos os escravos africanos.

No livro Brasil Vivo, lemos que: “a cultura também estava sob suspeita". Um dos muitos exemplos disto foi a prisão de três dos cinco autores da obra História Nova do Brasil que foi recolhida pela polícia. O “crime” dos autores era ter mudado o modo de contar a História do Brasil nos livros didáticos. Em vez de fatos, nomes e datas para decorar, os autores davam mais valor ao estudo da vida econômica e política do país. Em vez de destacar o papel dos “grandes personagens” os livros mostravam que o povo também fazia a História”.

Na visão dos militares, retirando-se os meios didáticos e as informações indispensáveis aos questionamentos da organização do país, a capacidade de questionamento da população seria limitada e consequentemente dominada. Foi com este pensamento que o regime militar desconfigurou o ensino da História, transformando-a em uma matéria propagadora de ideologias do Estado.

Nazismo e Neonazismo



O mundo jamais poderia acreditar que a ascensão de um cabo do exército alemão, ferido três vezes durante a Primeira Guerra Mundial, simpatizante do nacional-socialismo e anti-bolchevista ferrenho reergueria o orgulho da poderosa Alemanha, humilhada pela derrota, abatida pelo desemprego e por uma mega-inflação, este homem era Adolf Hitler, austríaco de origem germânica, corredor/mensageiro do 16º regimento de infantaria da Bavária, condecorado duas vezes com a Cruz de Ferro como herói de guerra.

A derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial pôs fim ao governo imperial alemão, que foi substituído pela República de Weimar. Reunidos em Versalhes, os países vitoriosos, Inglaterra e França, impõem duras penas aos alemães. A reação do povo alemão ao Tratado de Versalhes foi de revolta, havendo inúmeros protestos por toda a nação germânica.

Com a sua economia debilitada, após a derrota na Grande Guerra, a Alemanha passava por momentos de crise e por momentos de estabilidade, que se refletiam também na política. Muito endividada, com seu orgulho nacional ferido e com a taxa de desemprego elevadíssima, surgem na Alemanha movimentos políticos que visavam chegar ao poder.

Em 1929, com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, a nação alemã passa a viver uma grande depressão econômica e política. O governo perde a sua já desgastada credibilidade devido ao aumento nas taxas de desemprego e neste contexto, a violência dos grupos para-militares aumentou. Aproveitando-se desta situação, os nazistas, em seus discursos, atribuem a culpa pela crise, aos especuladores judeus e aos comunistas.

Além disso, em seus discursos, Hitler afirmava que os germânicos ou arianos eram uma raça pura e superiores as demais raças, e que por esse motivo deveriam dominá-las. Ele e seus seguidores do partido nazista estimulavam a revolta do povo alemão ao Tratado de Versalhes, a crise econômica, a elevada taxa de desemprego, o anti-semitismo, o medo de uma tomada do poder pelos comunistas e a necessidade de um espaço vital para o desenvolvimento da Alemanha.
Com esse discurso Hitler chega ao poder em 30 de janeiro de 1933, nomeado pelo presidente Hindenburg chanceler da República de Weimar. O Partido Nacional Socialista (Nazista), através de Adolf Hitler chega desta maneira ao poder máximo da Alemanha.

Avançando no tempo, vemos que o ódio aos judeus, ciganos, eslavos e comunistas, dentre outros, perseguidos e mortos pelos nazistas na primeira metade do século XX, continua ainda nos dias de hoje, através dos adeptos do neonazismo.

Não dependendo diretamente da existência de partidos políticos, o nazismo continua vivo através da existência de vários grupos neonazistas. Através da globalização, o fantasma que assombrou a Europa se dissemina por todo mundo, inclusive no Brasil.

No contexto atual, a diferença existente entre os grupos neonazista e os nazistas alemães do século passado, está na política, visto que os grupos existentes hoje em dia não possuem projetos políticos e apenas difundem preconceitos, ao contrário dos seus antecessores que lutavam pela reconstrução de uma nova Alemanha, humilhada pelo Tratado de Versalhes e mergulhada em sérios problemas sócio-econômicos.

Dos vários grupos neonazistas existentes, falaremos sobre os Skinheads, também conhecidos como “cabeças raspadas”. Nostálgicos do III Reich alemão, eles são adeptos de uma violência radical. Eles prosperaram na Europa inteira e em outras partes do mundo, menosprezando as legislações nacionais muitas vezes impotentes.

Os Skinheads surgiram em Londres no final dos anos de 1960, na sua maioria os integrantes deste grupo eram filhos de operários que se opunham aos hippies. Porém este movimento viu-se confiscado nos anos de 1970 por extremistas de tendência radical violenta e racista, que passam a vestir-se com roupas militares estampando, sem o menor constrangimento, insígnias nazistas.

Atribuindo a imigração, a recessão e ao desemprego, assim como a degradação do nível de vida dos europeus, ao surgimento de antigos preconceitos étnicos e raciais, nos anos 1980, movimentos autoritários e conservadores, denominados “neonazistas” manifestam-se violentamente contra os estrangeiros.

No Brasil o movimento neonazista surgiu por volta de 1983-84 e ficaram conhecidos como “Carecas”. Considerados xenófobos de extrema direita, propagam a discriminação contra os judeus, trabalhadores nordestinos, negros e homossexuais, afirmando serem essas sub-raças que devem ser exterminadas. Esses neonazistas brasileiros pregam uma limpeza étnica que jamais será possível ser feita num país como o nosso, formado que é pela mistura de povos europeus, africanos, indígenas e asiáticos.

No final dos anos 80 surge no Brasil, mais precisamente na cidade de São Paulo e no sul do país, o movimento dos Skinheads, assim como também surge o movimento denominado “White Power”. Em 2004, um estudo realizado pela Universidade de São Paulo e publicado na Revista Babel, classificou os skinheads como o maior grupo neonazista do Brasil.


Independência da Índia: Gandhi, Nehru e Jinnah



Nascido no dia 02 de outubro de 1869, em Porbandar, no oeste da Índia, Mohandas Karamchand Ganhdi, é sem a menor sombra de dúvida o mais admirado líder da independência da Índia. Aos dezoito anos foi estudar Direito em Londres e no ano de 1891 regressou a sua terra natal como advogado. Não obtendo o sucesso desejado em seu próprio país, onde permaneceu por dois anos, ele decide exercer a advocacia na África do Sul.

Estudando em fontes variadas que incluíam o hinduísmo e o cristianismo, além das obras do romancista russo Leon Tolstói, Gandhi passou a acreditar que o principal objetivo de sua vida era buscar a verdade através da não-violência e do autocontrole.

Ao retornar à Índia, no ano de 1915, o poeta Rabindranath Tagore deu-lhe o nome de Mahatma, que significa “Grande Alma”. Gandhi acreditava que somente através da renúncia aos bens materiais e aos desejos mundanos ele encontraria a verdade espiritual, limitando suas posses ao estritamente essencial. Em solidariedade com as pessoas mais humildes da Índia, ele deixou de usar roupas européias em 1921 e passou a vestir um dhoti, ou seja, uma tanga de algodão que era usada pelos camponeses.

Mahatma rejeitava todas as formas de violência, e nos trinta anos que lutou pela independência da Índia, ele incentivou o uso da desobediência civil e a resistência não-violenta contra as leis e atos que eram considerados injustos contra o povo indiano.

Com o trágico episódio ocorrido na cidade de Amritsar, onde no dia 15 de abril de 1919, tropas britânicas mataram aproximadamente quatrocentas pessoas e feriram em torno de outras mil e duzentas, Gandhi passou a empenhar-se cada vez mais em libertar o seu país do domínio da Inglaterra sendo várias vezes preso.

No dia 12 de março de 1930, partindo de sua casa, Gandhi percorre em 24 dias o caminho até a aldeia de Dandi, na conhecida marcha em protesto contra o imposto do sal, onde na praia pegou um pouco de sal e segurando sobre a sua cabeça, anunciou que fabricara sal. A partir dai as manifestações por toda a Índia começaram de forma mais atuante.

Nascido no dia 14 de novembro de 1889, em Allahabad, na Caxemira, Jawaharlal Nehru, também estudou Direito na Inglaterra, e desde o inicio de sua vida pública se identificou com as idéias pacifistas de Gandhi, tornando-se além de amigo, um discípulo que seguia seus passos no incentivo à desobediência civil sem violência, e assumiu com Mahatma Gandhi a liderança do movimento que levaria a Independência da Índia.

Sob a influência de Gandhi, Nehru muda seu estilo de vida luxuoso e os seus hábitos ocidentalizados e passa a adotar os trajes brancos dos nacionalistas indianos. Assim como Gandhi, Nehru também foi preso por participar do Movimento da Não Cooperação, permanecendo detido pelas forças britânicas durante alguns meses.

Porém, em determinado momento afastou-se de Gandhi, por divergir em torno de dois pontos de grande importância: para Nehru, a não-vilolência significava unicamente um meio de ação política e não um fundamento moral, enquanto que Gandhi lutava pelo desenvolvimento do artesanato indiano, Nehru queria uma Índia mais industrializada.

Em várias ocasiões, Jawaharlal Nehru dirigiu o Partido do Congresso, tanto como secretário-geral ou como presidente. Em sua luta pacifica pela libertação da Índia, ele acabou sendo preso por nove vezes pelos britânicos. Em 1946, quando a independência da Índia foi aceita pela Inglaterra, ocupou o cargo de vice-presidente do Conselho de Ministros e o principal responsável pela política de transição de governo, formando o primeiro governo hindu.

Pandit (professor), cognome atribuído por sua força de vontade e de liderança, assumiu no dia 15 de agosto de 1947 a função de primeiro-ministro da nova nação independente da Índia, permanecendo no poder até a sua morte no ano de 1964.

Nascido no seio de uma família muçulmana, na cidade de Karachi, no ano de 1876, Mohammed Ali Jinnah, também estudou Direito na Inglaterra. Ele era o líder dos muçulmanos na Índia Britânica, e estabeleceu-se como advogado no ano de 1896, na cidade de Bombaim.

Quando aderiu em 1913 à Liga Muçulmana, Jinnah devido a sua postura moderada acreditava na unidade das comunidades religiosas muçulmanas e hindus, porém com o passar do tempo convenceu-se que tal união era impossível.

No ano de 1940, Jinnah passa a defender a existência de dois estados independentes do Império Britânico. A maioria hindu ficaria na Índia, enquanto que a maioria muçulmana se organizaria em um novo estado que se chamaria Paquistão, que significa “Terra dos Puros”.

No dia 28 de julho de 1946, Jinnah declarou sua oposição ao Congresso Nacional e ao governo britânico, conclamando os muçulmanos e proclamando no dia 16 de agosto como o Dia da Ação Direta. Porém, o que deveria ser apenas uma manifestação pacífica acabou por se transformar num confronto generalizado entre as comunidades hindus e islâmicas, o que levou Jinnah a afirmar que: “Ou teremos uma Índia dividida, ou teremos uma Índia destruída”.

Em março de 1947, quando o novo vice-rei, Lorde Mountbatten, bisneto da rainha Vitória, chegou à Índia, a violência e as atrocidades estavam atingindo níveis insuportáveis. Então o conde de Mountbatten, último vice-rei da Índia Britânica, antecipou a data da independência para 15 de agosto de 1947, sendo que no dia 2 de junho seu plano foi aceito pelas lideranças indianas. Na data marcada a Inglaterra transmitiu o poder aos dois países: Índia e Paquistão.

Apesar da extensão do novo território islâmico do Paquistão ser menor do que Jinnah desejava, ele proferiu as seguintes palavras: “Não me importa o pouco que você me dê, conquanto que eu o tenha completamente”, e assim Mohammed Ali Jinnah tornou-se o primeiro dirigente do novo país, porém um ano após a sua posse, mais precisamente em setembro de 1948, o primeiro governador-geral do Paquistão vem a falecer.



Escola dos Annales



Oriundos da Universidade de Estrasburgo, os professores e historiadores March Bloch e Lucien Febvre, fundaram no ano de 1929 uma revista que recebeu o nome de Annales d’Histoire Économique Et Sociale, cuja primeira edição chegou as mãos do público francês no dia 15 de janeiro, e que mais tarde será batizada com o nome de Escola de Annales.

Destacando-se das demais publicações de história daquela época, a nova revista dedica especial interesse às ciências sociais e aos problemas presentes, contrariando a história tradicional proveniente dos grandes homens e baseada em fatos, vindo a receber a denominação de “História Nova”.

A revista dos Annales resumia as experiências e todo o saber dos seus fundadores, Bloch e Febvre, assim como deixava transparecer as suas criticas à história tradicional e nas crenças do modelo positivista, típica do século XIX. Eles propunham uma ciência sem dogmas, resultante de experiências práticas ou de observação, e não de conhecimentos teóricos.

Após a morte de Bloch e em seguida com a morte de Febvre, fundadores e maiores expoentes da primeira geração, quem assume o lugar de diretor efetivo da Escola dos Annales é Fernand Braudel.

Braudel afirmava que mesmo que lentamente, todas as estruturas estão sujeitas a mudanças e que para que isso ocorra tem de haver a contribuição especial do historiador para com as ciências sociais. Ele preconizava ver as coisas em sua inteireza, não se conformando com as fronteiras, separassem elas regiões ou ciências. Em sua obra, Mediterrâneo, ele valoriza as mudanças econômicas e sociais ocorridas ao longo dos anos, a localização do homem em relação ao meio em que vive, e dialogando com a geografia histórica, ele constrói a geo-história.

O historiador Ernest Labrousse, discípulo do economista François Simiand, incorporam na Escola dos Annales a chamada história quantitativa, através da qual, gráficos, tabelas e métodos quantitativos são incorporados nas análises históricas e sociais. No decorrer das duas primeiras décadas do pós-guerra, a análise quantitativa e a análise econômica ultrapassaram a análise da geografia, estabelecendo pesquisas e debates sobre os problemas de crescimento e de desenvolvimento, passando a fazer parte dos estudos na revista a história dos preços, a história demográfica e a história regional, dentre outras.

Com relação a terceira geração da Escola dos Annales, constatamos mudanças intelectuais e a ausência de uma liderança marcante. O policentrismo, conceito através do qual admitiu-se que o centro do pensamento histórico esta espalhado em vários lugares, proporcionou a abertura de novas idéias e trabalhos vindos de outros países de fora e de dentro do continente europeu e pode-se incluir novos temas aos já existentes.

A inexistência de um conhecimento temático levou a que alguns estudiosos falassem numa fragmentação. A mudança de interesse dos intelectuais da Escola dos Annales, deslocando-se da base econômica em direção para a superestrutura cultural e das mentalidades, ficou conhecida como um movimento que foi do “porão ao sótão”.

Por este motivo há o surgimento de assuntos relacionados à família, a mulher, as crianças, a sexualidade, a maneira de se vestir e até mesmo de se amar. Surge também, a chamada psico-história, ou seja, são incorporada as idéias, conceitos e propostas da psicanálise como sendo temas históricos. As questões medievais também estão presentes e, passam a ser estudadas através dos trabalhos do importante medievalista Jacque Le Goff.